terça-feira, 19 de outubro de 2010

Capítulo 1: Corte de laços, foice ligante

- <Onde você tá? Já chegaram no Shopping da Cruz?> - Perguntava uma voz ansiosa e abafada no micro ponto na orelha do homem de terno preto. A pressa era evidente.
            - <Acabamos de chegar. Pelo que posso supor da placa informativa, estou no andar dois. Me diga onde é a praça de alimentação.> - Pediu o homem com uma voz cansada pela tensão iniciada naquela manhã. Algo muito ruim aconteceria se eles não encontrassem o rapaz a tempo.
            - <5º andar, o lugar tem um elevador, procure-o, não há tempo a per--- Merda, CALAMITY, o monitor está mostrando atividade no local!! Eles já devem ter rastreado ele! Corra, se perdermos esse menino, a gente tá fudido! – Gritou a voz no ponto. Watcher estava realmente preocupado, quase em pânico.
            CALAMITY localizou o elevador, entre uma loja de artigos importados e a entrada dos toaletes. Fez um sinal de “siga-me” para o rapaz ao seu lado e andou rapidamente em direção ao elevador, que, felizmente, chegava ao andar que estavam. Infelizmente, o número de pessoas que estavam esperando os fariam ter de esperar a próxima ida. Isso não ia acontecer.
            - <A gente vai entrar de qualquer jeito.> – Disse VENOM, com sua típica voz fria e calculista. Apesar do profissionalismo, CALAMITY, mais experiente no ramo, pode sentir a aflição na voz dele. Como quem conta segredos disse então – Não vai dar pra ser educado dessa vez.
            - Ah. – Concordou CALAMITY. Beirando os 30 anos, o homem caucasiano parecia bem mais velho graças à barba por fazer, a falta de sono e a raiva que sentia. Tudo isso conseqüência dos eventos recentes.
            A porta do elevador se abriu, e antes mesmo que alguém pudesse pensar em entrar na vazia prisão metálica, os dois homens abriram caminho em meio às outras pessoas, empurrando qualquer um que estivesse no caminho. A indignação dos que esperaram minutos por sua vez de subir estava estampada em seus rostos e no ar. Quando estavam quase entrando alguém puxa CALAMITY por sua gravata. O americano foi forçado a virar abruptamente, indo de encontro ao seu agressor, que rapidamente o empurrou para parar seu momentum e o tomou com as duas mãos pela gola da camisa.
            - Não sei quem você pensa que é, amigo, mas tu não vai subir na minha frente, não! – Falou em voz alta o homem moreno. CALAMITY notou anéis dourados, tatuagens tribais, uma camisa branca que acentuava os músculos definidos, braços desproporcionais ao resto do corpo e careca. Um pseudo-halterofilista.
            O musculoso preparava um “telefone” com a mão esquerda, mas antes que seus dedos pudessem tocar o belo rosto de seu alvo, seu nariz foi esmagado pela cabeça do mesmo. Sangrando, o homem se dobrou e segurava dolorosamente o nariz. Por seus dedos, via-se sangue e o homem gritava em agonia. Sentindo desgosto por aquele homem, CALAMITY terminou o serviço com um chute no rosto do homem. O sangue de seu rosto atingiu o chão, as paredes do elevador inclusive seu rosto. Sentindo as gotas de calor em seu rosto, esfregou o rosto com a palma da mão. Ao voltar sua atenção pra onde estava, viu as mesmas pessoas que esperavam pelo elevador se afastando aterrorizadas, andando pra trás sem olhas por onde pisavam. Os dois homens olhavam pro halterofilista caído no chão e uma poça de sangue se formava ao redor de seu rosto.
            Um movimento na periferia de sua visão chamou a atenção de VENOM. Os seguranças, homens negros em ternos pretos, estranhamente, ao invés de detê-los, corriam apressadamente em direção as escadas rolantes. Teriam chegado tarde demais?
            - <Vamos logo!> - Chamou VENOM, entrando no elevador, puxando o colega pelo braço. Ambos entraram sozinhos na saleta e CALAMITY apertou o botão do 5º andar.
            As duas barras de metal que agiam como porta do elevador se encontraram e o mesmo entrou em movimento. A fraca luz do elevador conseguia esconder as feições de CALAMITY, mas VENOM tinha certeza de uma coisa: ele estava muito preocupado. Mais do que compreensível. Se aquela briguinha tiver custado a vida do seu alvo, eles terão muitos problemas.
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            Contra filé ao molho madeira, arroz piamontese, batatas fritas e refrigerante. A típica refeição de Shopping de Noma. O prato era tão freqüente que já sentia que estava enjoado dele, ou talvez sentisse isso por que a carne estava muito mole. Apesar de ser uma refeição deliciosa, não era a primeira vez que isso acontecia. Seus pais comiam quietamente nas cadeiras diante dele: comida tailandesa e peixe. Perguntava-se como também não enjoavam.
            -Você já estudou hoje? Ou vou assistir “365 Dias” sozinho de novo? – Perguntou seu pai com tom retórico.
            -Apesar de ser desnecessário, sim, já estudei. – Respondeu com tom seco, sem tirar os olhos do prato. Ainda que tentasse desconcertar o pai, a pergunta carregava um tom irritado.
            -Ah, ótimo! – Disse com um sorriso. Estava mais desconcertado do que satisfeito. Ambos sabiam disso. O sorriso forçado o fazia parecer um louco, visto as marcas que tinham no rosto. Possível
            -Vocês não tem outro hobby melhor não? – Finalmente falou Dália, com a típica voz indelicada. Tamanha “honestidade” contrastava com sua aparência serena.
            -Deixa a gente em paz, se você não gosta, não assista. Simples. – Noma rebateu, um pouco irritado, tentando manter a compostura.
            - Mas é que vocês exageram. – Respondeu ela, como se estivesse dando uma desculpa.
            -Errado. – Disse soltando os talheres - Ele exagera. – Disse apontando pro pai. Rogério olhou para ele irritado.
            E continuaram a comer. A aura do Shopping das Cruzes estava diferente hoje. O número de pessoas no lugar estava na média, entretanto, parecia que algo ia acontecer. Talvez fosse aniversário do Shopping, quando tinha música alta e promoções, ou uma festa pras crianças, onde sempre situações constrangedoras marcariam os pequenos para suas adolescências. Não tinha como saber, já que subiram pelo elevador para a praça de alimentação. O shopping em si, era entediante. Formado por cinco andares de corredores estreitos, você só gosta do lugar nas seguintes ocasiões: quando você quer comprar algo ou vai sair com alguém. No último caso, até um cemitério parece bom.
            Então algo pareceu quebrar o silêncio. A princípio, não dava pra dizer o que era, porém, na mudanidade do lugar, algo se transformava, crescia, evoluía, para então atacar, como um vírus. Noma parou de comer e olhou sorrateiramente para trás. As pessoas nas mesas mais próximas não haviam notado, mas as mais afastadas estavam de pé, tomando a visão do que quer que fosse. Ouviu gritos. Algo estava muito errado. Ele pensou em sair dali, mas antes que o pensamento se tornasse ação, um estalo forte e alto cortou o ar. Tiros. A essa altura, todas as pessoas estavam de pé. Idiotice. Mais tiros agrediram o ar. O horror era geral: muitas pessoas corriam desesperadamente para qualquer porta que pudessem encontrar, o pânico em seus rostos, em alguns, lágrimas nos olhos. Se esqueceram, entretanto que estavam numa praça de alimentação, só tinha três saídas: escada rolante, escadas de emergência e o elevador. Entretanto, para saírem, iam ter que passar pelo atirador.
            Nem Noma nem seus pais podiam se mexer. Estavam petrificados, sentados no chão. Seu pai abraçava os dois, em tentativa de acalmar a família. Sua mãe estava soluçando com o rosto enterrado no ombro. Noma apenas queria ver algo. O mar vivo de pessoas então abriu e ele pôde ver quem era o louco. De uma distância de quase 30 metros, lá estava um homem em uma armadura marrom clara. Com isso, Noma primeiramente pensou que era apenas um psicopata que leu muitos quadrinhos. Logo chegaria a Segurança e o deteria, passando o resto de seus dias na cadeia. Mas não. Isso era muito simples. Ele parecia determinado, com um objetivo. Começou a avançar, andando em linha reta. Estava ele em sua direção?
            A armadura parecia saída de uma série de super-heróis. O atirador usava um tecido que parecia muito grosso cobrindo todo o corpo. Era muito reluzente, parecia feita de metal, apesar de se este fosse o caso, o usuário não poderia se mover. Seus pés lembravam botas, porém feitas de ferro. Havia uma coloração metálica na parte do pé da armadura junto ao predominante marrom. Por todas as suas pernas, haviam faixas de couro amarradas. No joelho, peças de metal formavam o desenho de uma águia. Na parte frontal de suas coxas, havia uma espécie de cruz vermelha metálica, com a parte vertical indo do joelho até sua cintura e a parte horizontal formava um círculo pela coxa. Ele usava um cinto. A fivela era gigantesca e não parecia apenas uma fivela. Era mais uma insígnia. Em formato retangular, mas com as bordas ligeiramente curvas, a insígnia era negra, e a partir de seu centro um desenho que lembrava um asterisco prateado se formava. Projetando-se do centro, uma águia vermelha. O resto do cinto era preto, mas parecia feito de metal, não de couro.
            No tronco, a armadura era compacta, preta com detalhes em prata. Linhas recortavam a armadura do torso, separando-a em várias partes. Na insígnia do cinto parte da armadura se conectava, separando o corpo horizontalmente, e deixando o ventre protegido apenas pelo tecido marrom. Nas bordas da armadura haviam detalhes vermelhos que lembravam inscrições de povos antigos. Na altura de suas costelas, coldres. Ombreiras enormes, negras com detalhes que pareciam penas davam um ar ameaçador à figura mascarada. Nos braços corriam linhas vermelhas que iam até a ponta dos dedos, que era revestida por metal, de modo talvez a fazer alusão à garras. Nas mãos, carregava dois revólveres. Não eram comuns. Pareciam mais modernos, desenvolvidos. Eram bem maiores do que uma arma comum e tinham uma coloração avermelhada.
            O capacete do homem mascarado era singular. O topo, na altura da testa, se projetava ligeiramente, formando talvez o bico de um pássaro. Esta parte era negra. Linhas marrons que corriam já do pescoço se encontravam na lateral do rosto, formando uma região marrom escura. Na boca, havia uma placa prateada, e ao seu redor a cor era vermelha. Notava-se que a placa tinha presas em relevo. As 3 regiões em 3 cores diferentes se juntavam harmoniosamente por linhas prateadas em suas fronteiras. No centro do capacete, um visor roxo escuro em formato oval, lembrando olhos. Finalizava a criatura assustadora uma jóia verde em losango na testa. O capacete lembrava uma águia. A armadura era tudo, menos patética. Não. Era uma máquina de matar.
            Ao caminhar, o homem matava qualquer um que tivesse o azar de estar perto. Atirava sem sequer olhar, movendo os braços loucamente de maneira eficaz, acertando até mesmo pessoas atrás de si. Parecia ter um olho na nuca. O andar já estava praticamente vazio, já que apesar de estar matando, o mascarado não parecia preocupado em matar pessoas, mas sim alguém em especial. O chão agora era povoado apenas por mortos e pessoas inertes em pânico. Noma notou que o homem dentro da armadura o havia notado. Ele parou, como se estivesse analisando o adolescente. E então, começou a andar em sua direção. Seus pais viram, e entraram em pânico, mas não se mexeram. Nem Noma conseguiu.
            O homem parou diante dos três. Olhava pra Noma. Era ele seu alvo. Levantou as armas lentamente. Noma fechou os olhos, com medo. Não queria ver esses momentos finais. Esperou silenciosamente pela bala atravessando seu rosto moreno. O tiro foi ensurdecedor. Havia acabado. Nesse momento, sua alma devia estar indo aos céus. Porém ainda escutava os barulhos do lugar. Estava vivo. Abriu os olhos lentamente e viu sangue se formando no chão. Do seu lado jaziam seus pais. Entrou em choque, não sabia o que fazer. Lágrimas se formavam em seus olhos à medida que caía sobre o corpo dos pais, abraçando-os desesperadamente, gritando em dor. Mas o homem na armadura o puxou dos pais, jogando-o no chão à sua frente.
            -<Caso queira saber, meu nome é HUNTER. Achei que gostaria de saber o nome daquele que vai executá-lo. E agora uma bala na testa do jovenzinho.> - Falou o homem na armadura marrom, em inglês, com a voz transformada por um falsete metálico, apontando a arma na cabeça do rapaz, que olhou para ele com ódio queimando nos olhos. Ao ver isso, gargalhou. -<Pobrezinho, se tivesse o RIPPER SYSTEM com você, poderia até me matar. Mas já que não tem...> - Disse guardando uma das armas no coldre esquerdo. - <Tchauzinho.> - Aquilo era o anúncio do tiro que estava por vir. Apontou a arma pra sua cabeça.
            “Porque vão me matar?! O que fiz?!” pensava Noma. Esperava ver sua curta vida passando por seus olhos. Mas só conseguia ver seus pais mortos. Soou o tiro. Algo cortou o ar junto com a bala nesse momento. Um barulho surdo e um gemido de dor. Confuso pelos sons inesperados, abriu assustadamente os olhos. Novamente, não estava morto. Diante dele, pernas azuis metálicas. Um novo cavaleiro. Tornozeleiras prateadas, com jóias verdes incrustadas nas laterais. A partir delas, espécies de veias verdes subiam pelo corpo. Havia detalhes pela perna que lembrava escamas, e na parte inferior das pernas, espinhos. Através de suas pernas pode ver o mascarado atirador no chão, se contorcendo. O mascarado azul se virou e Noma olhou pro seu rosto.
            -<VENOM, seu maldito, me criando problemas de novo!> - Gemeu HUNTER com dificuldade, se levantando do chão, ajoelhando-se. Tentou ficar de pé, mas não conseguiu erguer as pernas, voltando a posição anterior. -<Que veneno você injetou em mim?>
            Ao contrário do atirador, sua armadura era mais compacta. Eram meras partes esverdeadas que mais pareciam músculos do que metal. Pelos braços, detalhes verdes contrastavam com o tecido azul, que parecia mais pesado e grosso que o marrom do atirador. O que chamava atenção eram seus punhos. Dos dedos saíam garras, lâminas enormes. Seu capacete, diferente da águia do atirador, não lembrava animal algum. Parecia remotamente com uma máscara de gás, porém, sem os tubos de gás. Era mais rústica, mais quadrada. Era um capacete de guerra, um robô. Seu visor era verde, em forma de “V”, porém mais achatado.
            -<Neurotoxina. Infelizmente, o efeito é reduzido pela armadura. Você deve estar de pé em alguns minutos. Mais do que suficiente para mim.>
            O homem agarrou Noma pela cintura com um braço e correu numa velocidade sobre-humana em direção à parede oposta, longe do mascarado caído.
            Parando, o “herói” azul o sentou cuidadosamente no chão, como se Noma estivesse machucado.
            - <Você está bem?> - Perguntou com uma voz mais natural do que a gerada pela armadura de HUNTER. O homem falava também em inglês.
            - <Sim, mas quem são vocês?> - Noma perguntou confuso. Sua camisa, antes branca, agora era vermelha. Ainda estava com a adrenalina alta.
            - <Eu? Eu sou um Saviour.> - Falou com uma voz descontraída, apontando com o polegar pra si próprio. Noma pensou que o capacete da armadura iria fazer um grande sorriso, com em um desenho japonês. Talvez fosse pela recente maratona na TV de seu quarto. – <O cara no chão, um lixo. Estamos aqui pra impedir que ele lhe mate. Salvar você. Convocar você.> - Dessa vez, sua voz estava mais séria e determinada. Ele olhava pro atirador já de pé, a uma distância de 20 metros. Ao lado dele, um homem não muito mais velho do que Noma havia surgido, vindo do nada em algum momento de seu diálogo. Ele era loiro, com os cabelos caindo nos olhos. Usava uma calça jeans azul justa e uma camisa branca. Seus olhos eram azuis e seu rosto era delicado. Em outros tempos, ele seria alguém na realeza.
            -<Veio proteger meu alvo, VENOM? Entregue-o a mim, é mais fácil pra ambos os lados.> - Pediu o rapaz de cabelos dourados estendendo a mão à VENOM. Imediatamente, ele se colocou a frente de Noma, como para protegê-lo de algo.
            -<Fica pra próxima, meu amigo afeminado.> - Disse levemente o homem na armadura azul.
            -<Afeminado é a sua mãe, filho da puta!> - Gritou o novo adulto, tirando um relógio, sem as pulseiras, do bolso. Ele o apertou contra o pulso esquerdo, e as pulseiras se formaram. Aquilo já não surpreendeu Noma. Ele já tinha visto demais por aquele dia.
            -<ZEUS não pode me derrotar, achei que você já tinha caído na real, Victor.> - Confessou VENOM, dando de ombros.
            “<COUNTDOWN TO DESTRUCTION(CONTAGEM REGRESSIVA PARA DESTRUIÇÃO>” disse uma voz robótica feminina vinda do relógio. VENOM recuou com um passo rápido para trás.
            -<Então você agora está usando o DESTROYER, hein? Bem, eu ainda vou te derrotar, você não tem experiência com o tipo EMPEROR. HUNTER finalmente conseguiu ficar de pé e parecia mais enfurecido do que nunca.
            “3”. O andrógeno e HUNTER começaram a andar lentamente em direção aos dois. “2”. 10 metros os separavam. “1”. 5 metros. O homem na armadura azul correu contra os dois, pulou rapidamente, chegando a aproximadamente 3 metros do chão e acertou um chute rotatório com a perna esquerda na cabeça de HUNTER, que foi arremessado ao chão, arrastando-se por 2 metros. “<0. DESTROYER ON (LIGANDO DESTROYER)>”Antes que pudesse prestar atenção em Victor, já transformado, VENOM foi levado ao chão por uma rasteira, atingindo o piso de granito com as costas. Antes que pudesse se esquivar e levantar, o novo inimigo, de armadura dourada e uma capa vermelho-vinho cortada em dois, esmagou suas costas com o pé. Noma estava sentando, pressionado contra a parede, o medo no rosto. Imóvel.
            O rapaz estendeu a mão bobamente, como que esperando que algo lhe fosse dado. Então, a região ao redor de seu punho foi tomado por uma luz branca. Ela rapidamente tomou a forma de um cilindro, longo e grosso. A luz brilhante se extinguiu, e em seu lugar, uma lança prateadamente, adornada com dourado, surgiu. O visor da armadura era vermelho, em formato de uma meia lua deitada, com cinco linhas projetando de cada um, como garras. Apontou a lança para o homem caído diante de si.
            -<Vamos acabar logo com isso, VENOM.> - Disse com uma voz séria e superiora. Levantou a lança pra tomar impulso e preparar a estocada.
            “<CREATING A CALAMITY>” gritou uma voz robótica, masculina e entusiasmada vinda do teto. Todos olharam pra cima, menos VENOM, que não conseguia girar a cabeça. Do teto, caía um homem em uma armadura cinza. Carregava uma espada e estava sobre o quase-algoz de VENOM. Este teve que se rolar para o lado rapidamente para não ser fatiado em dois. O 4º cavaleiro atingiu o chão com sua espada, fincando-a, mas rapidamente a retirou. Fez um corte no ar com ela em direção à DESTROYER, fazendo um corte diagonal em sua armadura peitoral ao mesmo tempo em que chutava o homem na armadura marrom, arremessando-o na parede oposta. Faíscas voaram enquanto Victor voava pro piso. O homem cinza se abaixou e levantou o companheiro, pondo sua mão sobre seu pescoço e andando até onde Noma estava, colocando-o cuidadosamente ao seu lado.
            -<Você está bem?> - Perguntou o herói cinza, ajoelhado ao lado do amigo.
            -<Ficarei, CALAMITY. Apenas crie um muro energético para dar tempo de eu me curar.> - Disse VENOM com muito esforço. Enquanto isso, as veias que Noma tinha visto anteriormente começaram a brilhar, e ele teve a impressão de que havia um flúido correndo por todo o corpo.
            -<Ah, isso não vai rolar!> - Gritou o homem na armadura dourada, começando a correr em direção ao trio. Seu companheiro ainda estava no chão, mas ele não parecia se importar.
            CALAMITY apenas virou e fez um gesto de “pare” com a mão. Uma película azul, por onde corria raios, foi formada. Esta separava o andar em dois, adiando em alguns segundos o embate. Ele se virou para Noma. Seu capacete era simples. Branco, com olhos pretos, não tinha placa de proteção na boca, mas o próprio capacete formava presas. Tinha ângulos bem redondos, com um queixo mais afinado, porém percebia-se a influência robótica em seu design. Tinha uma jóia vermelha na testa e chifres, estes lembravam uma coroa, não tendo traços de animais.
            -<Qual seu nome?> - Perguntou secamente.
            -<Noma. O que vocês querem comigo?> Respondeu Noma, em inglês enquanto se levantava. Encarava CALAMITY sem medo, como se fossem iguais.
            Os dois homens em armaduras do outro lado tentavam quebrar a película. O atirador atirava como se não houvesse amanhã e o outro desferia raios.
            -<Isso não pode ser explicado agora.>
            -<Como não?! Eu quase morri por culpa de vocês, eu exijo uma explicação!> - Gritou Noma, finalmente explodindo, a indignação e ódio estampados no rosto. Os olhos queimando.
            -<Tá, aí você morre, porque eu não vou conseguir manter o muro por muito mais tempo. Se não quiser morrer, siga minhas instruções.> - Retrucou CALAMITY sem a menor emoção.
            Ao notar que Noma concordou, prosseguiu.
            -<Pegue isso. Vai ajudar você na luta.> - Entregou uma insígnia a Noma. Ela era diferente da do cavaleiro dos revólveres. A base dela era prateada, com linhas e detalhes que davam um aspecto mecanizado ao cinto. Sobre ela, estavam uma peça que lembrava um colchete porém, de forma menos retilínea e regular.
            VENOM se levantou. Parecia tão bem quanto no momento que salvou Noma.
            -<Você vai se transformar com isso. Sistema RIPPER, uma das mais poderosas chaves já criadas pelas forjas, organizações secretas. Pressione-o contra seu ventre para que o cinto se instale. Depois empurre o meio, separando as empunhaduras e fale: “Open door!”. Ponha o cinto e só se transforme quando eu disser. VENOM, tudo OK?> – Perguntou olhando para o amigo em sua armadura azul e verde.
            VENOM apenas fez um sinal de “legal” mão.
            -<Certo, então, vou desligar o muro. Se prepare, Noma. – Avisou CALAMITY. Ele então estendeu a mão em direção ao muro, e lentamente abaixou.
            O muro se desfez, os dois homens estavam estáticos.
            -<Você entregou o RIPPER pra uma criança?! – Perguntou o dourado, gritando indignado.
            -<Falou o adulto.> - Retrucou VENOM.
            -<Prepare o cinto.> - Disse CALAMITY para Noma.
            Noma concordou com a cabeça e se preparou. Fechou os olhos pra se concentrar, reunir forças. Nesse momento, lembrou de seus pais, mortos a poucos metros. A raiva tomou conta de si. Apertou a insígnia contra o corpo.
            -<Garoto, ou você me dá esse cinto agora ou eu-- >
            -<Calado seu viado, depois que eu matar o peguim do faroeste ali, quem vai pro caixão é você! – Interrompeu Noma, apontando o dedo ameaçadoramente em direção ao homem na armadura dourada.
            Correntes surgiram diante de Noma e voaram em direção ao cinto. Elas se juntaram e o cinto fechou. Quando isso aconteceu, as correntes se tornaram planas, se moldando à cintura de Noma. “<INITIATION ALLOWED (INICIAÇÃO PERMITIDA)>” pode-se ouvir do cinto, dito por uma voz masculina grave.
            -<Acha mesmo que pode lutar contra mim? Você está se superestimando.> - Avisou Destroyer, estendendo uma mão para Noma, a outra segurando a lança cravada no chão
            -<Quando você se transformar, use todo o seu potencial. Já viu filmes de ação? No momento em que se você vestir essa armadura, você vai ter de lutar como jamais lutou. Tudo será possível.> - Explicou CALAMITY, pondo a mão no ombro do jovem brasileiro. Estava confiante. -<Vai dar tudo certo.>
            -<OK, menino, você teve sua chance, mas assinou seu atestado de óbito!> - Explodiu o homem na armadura dourada. -<Venha, HUNTER!> - Ambos corriam em direção ao trio, com a lança e revólveres em punho.
            -<Pronto?> - Perguntou CALAMITY. Seus oponentes não estavam nem 5 metros de distância.
            Noma fez sim com a cabeça. 2 metros. O homem de armadura dourada apontava a lança em direção à sua barriga. O atirador apontava os revólveres em direção a sua cabeça.
            -<Já!>- E ele e VENOM deram um pulo sobre humano, saindo da linha de batalha. Se seguraram nos canos de metal que estavam no teto, e se prepararam para observar a luta
            Noma empurrou as empunhaduras. - <Open Door!> - Gritou, e as duas partes simétricas giraram, cada uma para um lado, formando figuras paralelas e simétricas na horizontal. Então as pontas curvas cortando o ar com seu som metálico, e uma nova imagem foi formada. Duas foices.
            O ataque da dupla continuou e ao atingirem Noma, uma nuvem de poeira tomou a área onde estavam. Segundos silenciosos passaram. Sons altos de socos ouviu-se, junto com gemidos. Logo, tanto o homem na armadura dourada como o homem atirador voaram da névoa, atirados para trás. Atingiram mesas e as arrastaram consigo, parando finalmente quando atingiram um pilar cinza, feito de mármore.
            A atenção de CALAMITY e VENOM foi então das figuras caídas para a névoa. Esperaram os segundos passarem como anos, segurando a respiração. Lentamente a névoa foi se desfazendo. Pode-se notar pernas pretas no meio da poeira. E então Noma pôde ser visto. De pé. Estático, com um braço com o punho fechado. Explicado por que ambos voaram.
            A armadura era completamente negra. O tecido de proteção da armadura era um preto muito escuro. A armadura do torso era negra, com o peitoral um pouco estufado, e as partes inferiores como se definissem o abdome. Uma linha prateada cortava a armadura, de onde se projetavam outras linhas que formavam no torso algo que lembrava as mãos de um esqueleto. Sua joelheira era prateada, com 4 espinhos. Suas pernas possuíam placas de metal cinza escuro que cobriam a frente e a parte lateral de suas coxas. No resto da perna a armadura desenhava o corpo. As luvas eram pretas com detalhes cinza. Vestia uma longa capa negra, que cobria os braços e descia pelas costas, chegando até os pés. A mesma era incrivelmente justa. Lembrava um crânio, o topo era negro, e a placa de proteção da boca era prateada. Notava-se que tinha dentes. Em suas costas, foice gigantesca, com uma lâmina avassaladora e uma empunhadura negra. Levantou o capuz, e começou a andar em direção aos que o atacaram.
            -<Então, suponho que eu seja RIPPER the Saviour, correto?> - Perguntou, cruzando os braços. Sua voz estava macabra, muito grave. As lentes vermelhas da armadura brilharam. Por alguns segundos, tinham a impressão de estar diante da própria Morte.
            Do alto daquele andar, CALAMITY e VENOM viam a situação. VENOM olhou pra CALAMITY.
            -<É, esse garoto promete.>